domingo, 20 de maio de 2012

É bom ser livre?

Por alguns segundos o meu computador (é um notebook, na verdade, mas continuo chamando de computador) não ligou. Apertei o botão e ele não respondeu. Bateu aquela preocupação e medo de perder tudo o que eu tinha nele. Filmes, programas, textos que eu tinha escrito, fotos. Exercícios etc.

Liguei ele em outra tomada, porque a primeira tomada era frouxa e o plug do alimentador não ficava fixo (sim, eu ligo o meu notebook na tomada, porque a bateria dele acabou. Sim, se o computador não ligasse mais a culpa seria minha e da minha burrice de insistir em ligá-lo numa tomada frouxa). Aí ele ligou.

Mas pensando bem, por outro lado, se ele não ligasse mais mesmo, eu estaria livre de uma série de coisas que prendiam a minha rotina a aquele computador (estaria fudido, certeza).

O que me faz pensar sobre a liberdade.

domingo, 6 de novembro de 2011


conhecer as músicas de uma banda nova é ter sempre aquela sensação de perigo iminente a cada faixa.

voce ouviu de longe alguns acordes, achou bonito e disse que mais tarde iria procurar por ela.

daí voce coloca a primeira pra tocar e ela é tão boa, tão surpreendentemente boa que preciso tomar alguma coragem antes de ir pra próxima musica. afinal sair dela pra que?, esse terreno que se mostrou seguro, acolhedor, onde prefiro me manter a salvo do que me aventurar em outros acordes estranhos, lugares que eu posso nao gostar.

mas é conhecer o mundo, é um mal necessário. haverão músicas inóspitas, musicas grosseiras etc. eu é que por enquanto vou ficar no repeat, essa minha zona de conforto.

os olhos querem ter o que sonhar.
depois, os olhos querem ter com quem sonharam.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

bioquímica da preguiça.

arraigada nos músculos, 
elimino-a, contorcendo o corpo em milhares de voltas
expulso-a, esticando o corpo em todas as posições
coroando o descanso do máximo esforço com um bocejo.

num corpo abandonado, realoja-se
como um fluido de consistência invisível
uma bactéria invadindo pelos poros as carnes fracas
instalando-se entre as fibras musculares e tendões.

respiro fundo
bocejando inevitavelmente
para oxigenar os neurônios e fazer circular o sangue

quem saberá bolar um cálculo de entropia que meça 
a quantidade de preguiça 
que se aloja em forma de energia
que não se pode converter em forma de trabalho aproveitável.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

eu e as batatas de tubo.


Lembro de ter comido Pringles quando era criança, e de não ter gostado tanto quanto eu gosto hoje.

Acho que eu tinha comido de um sabor diferente do 'original', que hoje é o meu preferido.

Lembro que a caixa era de uma cor azul (ou era verde? não sei), e lembro que eu achava aquilo tão estranho! Muito excêntrico comer snack de batata que vinha numa embalagem cilíndrica. Eu estava acostumado com batatas que vinham em pacotes.

Mas eu morria de curiosidade de provar batata desse tipo. Batata que vem dentro de um canudo. Acho que era um tipo de batata pra gente rica. Não só por causa do preço, mas pela excentricidade; porque gente rica devia achar demasiado vulgar a condição de que, pra comer batata, você tenha de colocar a mão dentro de um pacote, fazer aquele barulho. Quem teria tido essa idéia de embalar batatas num tubo?

Eu sabia que tinha um gosto diferente. Era óbvio que era diferente, vinha dentro de um tubo! Era a mais extraordinária das batatas.

Talvez tudo isso  tenha influenciado na hora do gosto. Acho que eu esperei demais daquela batata tão excêntrica. Não gostei mesmo, tinha uma textura diferente, um cheiro acre, era quase sem sal, parecia jornal. Frustrado, decidi que não era pro meu paladar.

Até que um dia, eu já estava mais crescidinho, eu pensei em acabar com aquele preconceito infantil. Na verdade eu acho que eu nunca dei o assunto por encerrado naquele dia. Tinha guardado o problema pra resolvê-lo depois. Provavelmente eu devo ter pensado comigo mesmo pra me justificar: 'essa batata é pra gente grande'. Igual a todas as comidas de gente grande, essa também era uma dessas comidas com um gosto inexplicavelmente ruim, mas que todos adoravam (por exemplo, café, chocolate ao leite etc). Agora, não mais criança, eu pensava que não ter gostado era provavelmente coisa de criança. Então, com o devido espaço de tempo necessário para gostar da batata superado, eu dei mais uma chance.

Gostei. Hoje é a minha batata favorita.

O que na verdade eu acho irônico é que, de qualquer forma, eu provavelmente ainda sou uma criança, visto que estou aqui escrevendo sobre batatas.